08 abril 2006

Fragmentos desordenados para um manifesto político

Inauguro hoje uma seção Manifesto no nosso blog. O que é e por que a necessidade de um Manifesto? Bom, primeiro, porque presunção e água benta cada um toma a que quer!

Mais seriamente, por que sou um indivíduo altamente politizado, mas sem partido. O que fazer então, quando um cidadão conclui que todos à sua volta e ele próprio parecem clamar por uma outra POLÍTICA, mas que todos se encontram paralizados, num estado de dormência consentida. TODOS parecemos conhecer as razões do mal-estar do nosso mundo, mas NINGUÉM parece ter ou querer ter a capacidade de pensar/construir um novo sistema. Complexo, muito complexo!

Afinal, e com razão, somos hoje céticos relativamente à ideia de mais revoluções. Como dizia Isaiah Berlin, as revoluções são sempre levadas avante contra alguém, mas como saber se esses contra quem lutamos estão completamente errados? A questão é quando deixamos de poder vislumbrar Humanidade nas opiniões/atos de alguém? Se acharmos os outros desumanos, podemos justificar sua aniquilação. Quantas revoluções foram perpetradas em nome da Humanização, pelo aniquilamento dos não-humanos. Não, não precisamos de mais uma revolução!

Precisamos sim de um encontro de CONsCIÊNCIAs cooperativas que se transformem, por contágio, num movimento de cidadãos, suficientemente importante na opinião pública. A opinião pública não corporativista tem um poder imenso, ainda não percebido por cidadãos demasiado ocupados com a defesa dos grupos/corporações a que pertencem.

Ilustrando, com um exemplo do Brasil, por que não aconteceu ainda uma manisfestação gigantesca de cidadãos, em todas as cidades do país, contra a forma como se faz política no Brasil? Falo por exemplo do folclore piromaniaco de TODOS, desde tucanos de bico desbotado até aos petistas da estrela (de)cadente. Haverá, claro, honrosas exceções. Mas por quê?
Dormência ou conluio com o status quo?
Bunda mole ou cérebro amolecido pela telenovela?
Ou o "silêncio dos intelectuais"!
Ou então "vou levando como todos, quem estiver mal que se apresente na linha da frente (será o sentimento de culpa resultante que leva a tolerar o MST)" !?
O problema é sempre do OUTRO, até o problema chegar em mim próprio. "A favela fica lá longe, o favelado não é um problema meu até ele se cruzar no meu caminho".

Uma ideia central no meu manifesto desordenado é que existe uma luta/competição entre grupos humanos em diversas escalas (indivíduos, famílias, comunidades, nações, empresas, etc), que leva à percepção errada, na minha opinião, de que outros grupos são o inimigo, ou então são menosprezáveis na sua relevância para o bem-estar do meu grupo.

Outra ideia central é a de que o ser humano é falho na sua capacidade de perceber as interações com outros grupos humanos em diversas escalas de abrangência, falha que só poderá ser compensada pelo estudo e conhecimento do funcionamento dessas interações.

Será meu objetivo desenvolver um nexo argumentativo que demonstre que o bem-estar de um indivíduo, e do seu conjunto, depende da sua percepção das interações entre grupos de indivíduos, numa escala de organização cada vez mais abrangente, e da valoração ética destas interações.

E de que acredito que existe UMA ética que leva ao bem-estar, e que existem éticas várias que levam ao auto-engano do bem-estar.

Não me ocuparei desenvolvendo estas ideias centrais, mas sim tentarei juntar fragmentos com ciência que ajudem ao auto-convencimento e ao do OUTRO.

Sem compromisso ou periodicidade definidas! Se alguém estiver interessado em contribuir, quem sabe poderemos criar um blog comunitário para construir um Manifesto comunitário, por auto-organização da BLOGOSFERA!

Para quem me conhece, vê que continuo ambicioso nas utopias! É que sem utopia...caia já aqui um raio e me fulmine! Ser vegetal não é para mim